terça-feira, 4 de junho de 2013

Coragem

Semana passada fui a uma celebração simples, bonita e que durou uns 40 minutos.

Foi um evento importante mas não muito formal, o clima era bom lá dentro porque fora caia uma chuva daquelas; mas nem isso tirou o animo de ninguém. O que mais me chamou atenção foi a fala de uma pessoa no final quando já estavam na parte das despedidas e ela falou algo assim:

"Se alguém me dissesse para deixar o pais que eu nasci, meu pais, minha casa, minha família, meus amigos e tudo o que eu tenho para ir para um pais muito longe, começar tudo de novo, aprender uma nova língua, uma nova cultura e construir minha vida novamente... eu não conseguiria. Vocês são muito valentes, corajosos...."

Continuou com algumas poucas palavras que eu não lembro porque estava soando o nariz e disfarçando as dezenas de lágrimas que insistiam em correr pelos meus olhos; mesmo eu tentando controlá-las mas foi uma missão impossível para mim. 

Chorei porque lembrei da historia do meu pai, estava tão perto do aniversário dele para ajudar, lembrei dele contando a viagem que fez de navio por dias até chegar ao Brasil. Lembrei do dia que eu embarquei para a Espanha. Foi um choro de alegria e tristeza ao mesmo tempo.

Alegria: por sermos corajosos. Todos que conseguem sair da sua zona de conforto e ir atrás dos seus sonhos são corajosos.

Tristeza: porque sei que muitas pessoas sofreram muito na tentativa de realizar seus sonhos. Mais uma vez a imagem do meu pai veio a minha mente.



Com tudo isso queria contar um pequeno "causo" para vocês (e deixar registrado aqui). Senta que la' vem historia... 

Em dezembro de 2003 eu estava decidida que iria para a Espanha por alguns anos, tinha dois objetivos:
* conhecer a família do meu pai, minha outra parte da família que eu só conhecia por fotos, algumas cartas e  raros telefonemas (era muito mas muito mais caro fazer ligação internacional "antigamente").

* fazer uma pós graduação que eu havia encontrado em uma universidade justo na cidade da minha família, Sevilha. Que coincidência boa mas eu mal sabia que essa nem era  a principal  coincidência que eu veria.

Passei alguns meses pensando na ideia e em dezembro estava tudo oficializado. Quando comentei com a minha família ouvi comentários de apoio mas a maioria de desencorajamento. Respirei fundo e me mantive firme na minha decisão.

Em fevereiro meus pais viram que a coisa estava ficando séria. Eu tinha cumprido meu aviso prévio, não trabalhava mais e fim de março (dia 25) era o dia do embarque. Então eles falaram que queriam muito fazer uma última viagem comigo pois não sabiam exatamente quando eu voltaria e provavelmente não iriam me visitar na Espanha.

Tentei explicar que não podia gastar nenhum centavo naquele momento, que não queria ir para longe e mesmo com  muitos argumentos concretos não adiantou, eles queriam muito e por fim aceitei.

Fomos para o Ceará para a cidade de Crato e juro para vocês que nunca passei tanto calor na minha vida. Fora que foi uma viagem com bem pouca verba. Só para vocês terem uma noção de como foi tudo, fomos de ônibus - nada mais nada menos-  que três dias sendo que no segundo dia o ar do ônibus quebrou e tivemos que viajar com as janelas abertas para refrescar. 

Mas viajar é sempre bom então nem posso reclamar. Tenho poucas fotos daquela viagem pois ainda não tínhamos máquina digital (acho que só existiam as máquinas profissionais digitais não as mais simples para uso de todos como temos hoje), tiramos fotos em uma máquina de filme, ficamos na casa de uns amigos dos meus pais, dormimos no mesmo quarto e ai que vem uma surpresa no fim da viagem.

Só um parenteses: acho que nunca ficamos tanto tempo juntos como nesses 20 dias. Faltou meu irmão para a família estar completa mas ele não quis ir, não teve jeito. 

No último dia aconteceu algo que todas as vezes que eu lembro me dá um arrepio daqueles. Não sei porque estava olhando algumas coisas em uma comoda, onde deixávamos nossos pertences e peguei a Carteira de Identidade de Estrangeiro do meu pai. Comecei a ver como quem não quer nada e ai eu li algo como Entrada/ chegada no Brasil: 26/03.

Sentei na cama, eu tremia, me deu um nó na garganta e continuei lendo. Idade: 26 anos. Pronto.

Para vocês entenderem: meu pai chegou no Brasil em um dia 26 de março com 26 anos. Eu estava indo para a Espanha e chegaria lá em um dia 26 de março com exatos 26 anos. Faria a viagem contrária do meu pai e com a mesma idade, chegando no mesmo dia.

Minha mãe veio perguntar se eu estava bem, tentei explicar e chorei. 

Coincidência, destino, premonição, planos de Deus... não sei, só sei que essa história marcou nossa viagem e me marcou tão forte, de um jeito que não sei explicar.

No dia da cerimônia da semana passada lembrei muito desse dia. Lembrei também que meu pai se apaixonou tanto pelo Brasil que nunca quis voltar de forma permanente para sua terra.

Foram muitas emoções para uma semana só.

Assim sem querer, sem planejar muito dia 26 de março de 2004 eu comecei um novo capítulo na história da minha vida.

Em um outro post conto como vim parar em Londres.

* desculpa to saudosa, nostálgica e pensando em tudo isso. Será que minha hora de voltar chegou antes do que eu gostaria? Será que eu vou me adaptar? Tantos "serás".


Falo sobre ir embora daqui desde 2011 para quem não viu ou não sabe, segue o post.

6 comentários:

  1. OI. Graziela!

    Eu me comovi com sua história... É muito difícil realmente deixar o nosso conformto para ir atrás dos sonhos, mas é muito gratificante, quando se faz uma escolha difícil assim como a do seu pai e a sua e se colhe bons frutos! Eu sei que cada um colheu os frutos na proporção que se doou por seus sonhos e fico feliz por poder conhecer um pouco mais sobre sua história, mesmo sabendo também que nosso contato é mínimo, às vezes não tenho muito tempo de entrar e comentar os posts, mas quando algo me toca verdadeiramente, não perco a oportunidade!

    Beijão, querida! Força e Coragem na sua vida! Deus te abençoe!

    Abraços,

    Drica.

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  2. Muito bom. Compartilhei, pois tenho outras amigas que são como tu, mulheres de coragem. bjs

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  3. Graziela, que história bonita , dá um conto - só consigo pensar assim , se as coisas dão um conto ou não. E esta dá um conto, daqueles bonitos que fazem pensar. :-) Seja bem vinda de volta.

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  4. suspirei e emocionei ... sem palavras

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  5. Que bonito! Amos essas coincidências... Lembro do meu pai que saiu com a esposa e nós 3 filhos e ficamos 4 anos longe de tudo e de todos. Fomos para os USA. Sendo que só ele falava, mal ainda, o inglês. Foi momento de muita união nossa. Minha infância foi maravilhosa em função disso! Eram viagens e passeios, idas à biblioteca do bairro e piqueniques. Só nós e nós! Acho muito corajoso da parte de vcs mesmo. Meu pai queria que eu ficasse nos USA, da última vez que fomos , mas eu já estava apaixonada pelo meu marido (agora marido, na época só um cara que conheci 4 meses antes). Mas quero muito dar essa experiência de morar fora, para as crianças. Meu marido quer Barcellona.. vamos visitar de início (sem data por enquanto), quem sabe não ficamos tb! ?
    Bjão, gi

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  6. Ah Gra, só prova pra gente que tudo acontece pelo motivo certinho né? E que nos planos que são feitos pra nós, alguns não dá pra mudar nem que queremos ;c) E ainda bem que você veio pra gente poder te conhecer!

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Obrigada por comentar, sua opiniao e' muito importante.
Leio todos os comentarios e sempre que possivel respondo aqui mesmo ou no blog correspondente de quem comentou. Muito obrigada pela visita e volte sempre.
Gra

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